domingo, 30 de novembro de 2014

«Quero miminhos...»


Passei do quarto para a cozinha, para tomar o pequeno-almoço.
Ao passar pela sala vi-a meio acabrunhada.

- Então, Balu? Que se passa?
- Quero miminhos...
- Miminhos?
- Sim, Pai... Dás-me...?
- Claro! -  e encaminhei-me para ela. - Mas precisas de miminhos por alguma razão em especial?
- Então, Pai... Por que é que havia de ser?!... Estava com saudades tuas! Estavas a dormir e eu tive saudades tuas toda a noite!


sábado, 29 de novembro de 2014

Benedita Rodrigues. Sem erros.


Não é facilmente perceptível, assim, mas isto é a tampa de uma caixa de plasticina (em forma de maçã). Ela pegou na caixa e pediu-me uma caneta "das minhas" (canetas de tinta permanente, que eu uso, por exemplo, para pintar os ohos nos ovos do meu projecto Ovomaltinha). E começou a escrevinhar na tampa. Ofereci-me para ajudar, sem saber o que queria escrever. Ela não quis. Só veio ter comigo uns minutos mais tarde, meio chorona, porque se tinha enganado numas letras. O i e o g. Eu apaguei-as com álcool, para ela refazer mas como estava fazer uma outra coisa nem reparei no que ela estava a escrever. Apaguei as duas letras mal escritas e mais nada. Perdão, minto. Apaguei aquelas duas letras, dei-lhe a caixa de novo para as mãos e perguntei-lhe se ela não queria mesmo ajuda. Respondeu que não, já de costas para mim, ao dobrar da ombreira da porta da cozinha para o corredor. Voltou uns minutos depois. Só aí percebi. Primeiro e e último nomes. Sem ajudas. Sem erros. Vou começar a juntar dinheiro para as propinas da universidade.

A 29 de Novembro "já é Natal" cá em casa

Eu bem queria esperar por Dezembro... mas ela não deixou. "Pai, é hoje que pomos as bolinhas e as luzinhas na árvore do Natal!" (em tom de ordem e não de pedido, claro)



quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O dia em que o 1º dente de leite caiu



... e foi guardado num frasquinho especial. 


Ela não chorou, achou a coisa mais normal do mundo, contou-me com entusiasmo na voz e um sorriso (que agora "tem um buraco", diz ela) nos lábios. O orgulho de um pai também acontece quando algo corre mal. Como... um dente cair, por exemplo.

«Olha! Tenho um buraco no sorriso!!!»




sábado, 15 de novembro de 2014

Dos elogios



«Pai, és o melhor médico, o melhor Manny* e o melhor jornalista! Ah pois és!»



*faz-tudo/mecânico

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O Skate RépFézz

- O Skate quê?!...
- RépFézz!
- Desculpa... não estou a entender... vem cá ao pé de mim dizer devagarinho.
- Este é o Skate Rép... fézz. RÉP-FÉZZ!
- Skate RépFézz?
- Sim. Serve só para eu ir muito rápido!
- Mas, Balu... não tem rodas...
- Pois... não... se calhar não vai tão rápido assim... Mas... a fingir que vai!



"Agora todos!!!" (mas em Ing-Balu-ês)


Estou na sala e oiço-a no quarto:

«Cámóunuéribódiii! Cámóóóóune! Cámóunuéribóóódi! 

Cámóune! Cámoune! Cámóune!»




sábado, 8 de novembro de 2014

O "Gúgâl"


- Pai, a Paula [educadora] disse que temos de procurar no "Gúgâl" coisas da Maria Castanha!
- Ok. Mas... espera lá... tu sabes o que é o Google?!...
- Sei! O "Gúgâl" é uma "inténéte"!
 




domingo, 2 de novembro de 2014

Notícias do Interior



"Pai... sabes... os médicos, quando querem ver se as pessoas têm ossos partidos, fazem 'raiotografias'. Sabias, Pai?"



Contagem da crescente


Deitar e ouvir no quarto ao lado: "... cinco memés... seis memés... sete memés... oito memés... nove memés... ten... eleven... twelve..."

Priceless!



quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Retalhos da vida de um pai...

... que por vezes chegam via sms.

No caso, o relato (da mãe) de como foi o primeiro diálogo do dia entre elas, quando eu já tinha saído para trabalhar.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Questões essenciais. Sempre.


Estamos, naturalmente, atentos a tudo o que ela come todos os dias. Faz parte das (nossas) funções de pais.  Sendo assim, mesmo que ela não seja uma gulosa por doces em barda, tentamos evitar que ela se exceda, por exemplo, no chocolate (que ela ADORA). Como é esperta que tolhe, já percebeu que come menos chocolate do que há uns tempos. E, vai daí, um dia destes (em que tinha recebido chocolates do aniversário de uma amiga da escola) perguntou-me.

- Pai, posso comer chocolate?
- Não. Daqui a pouco vais jantar.
- Não estás a entender, Pai! Posso ou não posso comer chocolate?!
- Já te disse que não! Vais jantar não tarda nada!
(Pausa momentânea, em que ela pára a conversa, faz ar de enfado e regressa à argumentação, com tom por de mais altivo... e adulto.) 
- Pai. Eu vou-te explicar. Posso comer chocolate... no resto da vida? Não é hoje. É... no resto da vida! Estás a entender?... 



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O Arranjarista



- Pai, arranjas-me isto aqui na casa do Ruca?
- Arranjo, pois! (...) Pronto, já está.
- Ah, Pai! Que bom! Toma lá um beijinho por seres um tão bom arranjarista!




quarta-feira, 27 de agosto de 2014

DJ Balu, "in-dâ-house"!

Disse-me há uns dias que aprendeu «na televisão da avó Júlia como se faz». Não sei se foi num desenho animado ou noutro tipo de programa, confesso. A verdade é que, de vez em quando, ao ouvir música, ela agora senta-se em frente a uma pequena mesa, põe uma das mãos sobre o ouvido e a outra a fingir que aumenta ou baixa o volume do som e faz 'scratch' de discos, como os dj's fazem. Ontem, no quintal das férias, onde ouvimos a Rádio Comercial num pequeno rádio já velhote (tradições nossas...), ela lá começou a fazer de conta que era dj - e para dar mais realismo foi mesmo buscar a casa os headphones dela.



- Balu, que estás a fazer?
- Estou a pôr música! Queres que ponha uma para ti? Depois carrego aqui [botão imaginário] para pôr a música a andar e aqui [outro botão imaginário] para pôr mais alto e ouvires melhor.
- Então e que música tens aí para pôr a tocar?
- Espera... [vai com a mão ao bolso dos calções para pegar algo - imaginário, claro] Olha, Pai, tenho aqui o MP3 para pôr a música. Mas se não gostares, também tenho o 4, o 2 e o 1.


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

5:29 da madrugada, nas férias


Primeiro um berro. Depois um choro. Não tarda muito até aparecer no quarto dos pais e a subir-lhes cama acima.

- Porque é que estás acordada?
- A minha cama está-s'a desfazer... - em tom de choro iminente.
- Pronto... Vá... O pai vai consertar isso como o Manny.

A cama está é toda revirada, com o lençol enrolado - que o pai, como prometido, "conserta", para ela deitar-se de novo.

- Pai... - de novo em tom de choro iminente - Sabes o que eu estava a sonhar?...
- Com o quê, Balu? Era muito mau?
- Sim... Era que os Bichos Camião roubavam o Soninho e o Memé* e os levavam para as suas casa... E eu já tinha muitas saudades deles!... - diz ela com os dois bonecos, um em cada mão, de onde nunca sairam. Excepto no sonho mau.

- - -

* - Os dois bonecos com que dorme praticamente desde que nasceu, há 5 anos e uns dias; um ursinho (Soninho) e um mini-cobertor com uma ovelha (Memé), que segura e mostra enquanto me conta o pesadelo.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Falar por impuls'eira



Depois de, ontem, ter recebido um telefonema da PSP a convocar-me para ir buscar a pulseira "Estou Aqui!" para a Balu, hoje, mesmo antes de pegar a catraia e com ela ir à esquadra para pegar a pulseira, recebi uma mensagem da PSP a dizer que, afinal, as pulseiras ainda não estavam disponíveis. Como ontem à noite tinha prometido à Balu irmos buscar a pulseira dela, ao entrarmos no carro, dei-lhe a (má) notícia.

- Balu, os senhores polícias mandaram-me mensagem a dizer que afinal ainda não têm a tua pulseira para te dar...

A resposta dela (tão "ipsis verbis" quanto possível), foi:

- Oh, Pai! Eu sei porque é que os senhores polícias não têm as pulseiras porque eles tinham materiais para fazer as pulseiras e fizeram muitas e depois as pessoas todas quiseram as pulseiras e eles tinham feito muitas muitas muitas pulseiras só que quando o senhor polícia foi à janela houve muitos meninos e pais e mães que fizeram uma fila muito graaaaaaaaaande e as pulseiras acabaram logo e os senhores polícias ficaram sem pulseiras e eles tinham feito muitas muitas muitas pulseiras mas ficaram sem nenhuma e tu e a mãe amanhã à tarde têm de mandar mensagem ou ligar para os senhores polícias - aqueles que fizeram as pulseiras, sabes, Pai?... - vos ligarem a vocês para vos dizer que já têm pulseiras porque já devem ter recebido mais materiais para fazer pulseiras novas - aquelas que os meninos todos já têm como o Rodrigo e o Afonso que já têm pulseiras e eu não tenho porque os senhores polícias fizeram muitas muitas muitas com os materiais mas muitos meninos e meninas quiseram e fizeram filas e os senhores polícias ficaram tristes porque já não tinham mais materiais para fazer mais pulseiras e eu agora também estou triste porque também não tenho pulseira... [curta pausa para algo semelhante a beicinho - coisa de 2 segundos, não mais] ... e é por isso que tu e a mãe têm de mandar mensagem aos senhores polícias amanhã para eles ligarem para vocês a dizer se já têm materiais para fazer muitas muitas muitas pulseiras novas porque eu quero muito a minha pulseira azul - sabes, Pai, eu tinha uma pulseira dessas nas outras férias quando eu fiz os 4 anos e era verão foi quando eu fiz anos, lembras-te, Pai?... - e eles deram as pulseiras todas aos meninos e às mães e aos pais que fizeram filas porque queriam muito ter uma pulseira como aquela que eu tive nas férias da outra vez...

E, com isto, chegámos a casa. São cerca de 10 minutos de carro, o trajecto escola-casa. Eu conduzi. Ela falou. Falou. Falou. Falou. Falou. Falou... Amanhã tenho de ligar à PSP a perguntar pelas pulseiras. Não sei se aguento outra viagem escola-casa igual a esta.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Nó na garganta




Ver-te adormecer hoje, entre a calma induzida pela anestesia e a súbita agitação de te sentires perder o controlo de ti própria (daquela forma, pela primeira vez) reavivou-me uma memória que tinha esquecida - e que não queria de volta; a do nó na garganta que é ver-te a chorar ou quando estás rodeada por médicos. Porque isso nunca é bom. Mesmo sabendo dessa pequena grande ironia de ser precisamente por causa do teu "nó na garganta" que estavas a ser adormecida, o meu nó na garganta não foi mais brando. Ele estava lá, eu sentia-o a impedir-me de engolir, mesmo que em seco, e - vá lá... - também a impedir o coração de sair pela boca (e... oh... se ele estava ali tão perto...)

Adormeceste. Lutaste  bocadinho mas adormeceste. Descansaram-me e prometeram chamar-me dali a pouco. Assim foi. Mas, durante a espera, o café - duplo -, bebido naqueles minutos seguintes, soube-me a nada e o nó na garganta quase nem o (pouco) sabor de que tanto gosto deixou passar para o resto corpo.

O telefone tocou. Fui encontrar-te, já acordada no Recobro, chorona como há muito não te via. E... desculpa!... eu sei que não era das dores do corpo que choravas mas sim das dores da alma, de não me veres a mim nem à Mãe, ali a segurar na tua mão. Um dia perceberás que só podemos estar onde e quando podemos estar, e que são os médicos que decidem isso e não nós... mas até lá... desculpa, meu Amor, por não estarmos lá quando acordaste e precisavas das mãos que querias a passar-te suavemente na cara, para acalmar-te!...

Correu tudo bem. Choraste mais durante o dia. Querias voltar para o teu mundo, para o teu conforto. Mas, olha... toda a gente te elogiou a coragem, o espírito, o sentido de responsabilidade e a manutenção de uma calma notável, que nenhum miúdo da tua idade ou mais novo (nem muitos mesmo mais velhos que tu) mantém um dia inteiro no hospital, por motivo semelhante. És uma guerreira! Uma força da natureza! Uma criança admirável! Uma Pessoa (sim, com "P" maiúsculo) única e maravilhosa! Tão única que - porque (estranhamente, ao contrário de quase qualquer outra criança) gostas de médicos, hospitais, cuidados de enfermagem e afins - tanto à ida para lá como à vinda para casa (e até já na cama, agora ao fim da noite) sempre disseste: «Este é o meu melhor dia DE SEMPREEEEE!»

Sim! O dia em que foste operada às amígdalas e aos ouvidos! Sabes quantos miúdos o diriam (quanto mais com a emoção com que o disseste)...?

Espero que o teu "nó na garganta" tenha desaparecido para sempre.

O meu... bom... o meu voltará sempre que perceba que choras. Espero estar lá para fazer-te o carinho na cara que sei que esperas que te faça para acalmar-te.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

"Prancês"


Sem ela perceber, mudei-lhe o idioma do episódio dos desenhos animados que ela está a ver na box digital, de Português para Inglês. Ela lá se apercebeu que o idioma mudou mas como as primeiras falas dos bonecos eram complexas não conseguiu entender que idioma estava a ouvir. Eu aproveitei e perguntei:
- Então, que se passa?
- Acho que já sei que é que eles estão a falar!...
- Não é Português, Balu?
- Não!
- Não é Inglês?
- Não!
- Então?
- É "Prancês"!
- "Prancês"?! Então onde é que se fala esse... "Prancês"?
- Ó Pápi! É numa cidade muito fininha!

Baba(lu) de Caracol


O orgulho (e a baba) de um pai também pode residir num momento palerma em que a pirralha divaga sobre dragões falsos com pessoas lá dentro enquanto degusta (satisfeitíssima!) uma data de caracóis  (e muito despachada na técnica própria que o consumo deste petisco envolve - uma bela surpresa!) resultantes da primeira incursão do progenitor na confecção dos ditos.




PS: Não gosta de quase carne nenhuma, detesta legumes, abomina ervilhas!!! É esquisita com uma porrada de comidas (fruta... nem vê-la, quase). Adora caracóis.

PS 2: Ah... e amêijoas (que o pai também se ajeita a cozinhar). Também lhes dá um bom avio.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Problemas nasais

- Não acho de jeito nada neste nariz!
- Não achas nada de jeito a quê?
- Não acho de jeito nada neste meu nariz!!!
- Balu, a expressão certa é "Não acho nada de jeito a..." qualquer coisa.
- Não é qualquer coisa! É o meu nariz! Não acho de jeito nada neste nariz!
- Ok... Mas por que é que não achas nada de jeito ao teu nariz?
- Porque não pára quieto!
- ?...
- Sim! Não pára quieto! Ora vê! Se eu olho para cima ele vai para cima. Se eu olho para baixo, ele vai para baixo. Se eu olho para os lados...
- Sim, já percebi. Mas é suposto ser assim.
- Mas não é só isso, Pápi! Olha! Se eu apontar para ele e depois mexer nele com o dedo ele também não pára quieto! Olha!!!!


domingo, 4 de maio de 2014

Campeão da pobreza de espírito

O cenário é este:

Homem, mulher e filho entram num restaurante. Ao entrar, a mulher pergunta algo ao homem, que não responde e logo de seguida tira dos ouvidos os auriculares ligados ao smartphone. A mulher, que se encaminha para a fila do pré-pagamento, pergunta-lhe o que ele quer comer e ele volta a não responder porque está a ligar o wifi e o ecrã do smartphone, passando a ver um canal de tv em directo. Ela traz dois tabuleiros muito cheios com comida para os três e ele começa a comer, sempre com os olhos pregados no ecrã do smartphone. Durante a refeição, ele nunca olha para a mulher ou para o filho e quando fala limita-se a dizer "a-hã" (como que anuindo ao que quer que seja que lhe estão a dizer; imagino que, se for uma notícia extraordinariamente boa ou o anúncio feito pela mulher do desejo de separação imediata do casal, por ele está tudo ok, ou melhor, estará tudo "a-hã"). O filho não fala; de vez em quando olha para o pai mas percebe nem lhe mostrando o boneco oferecido com a refeição lhe arrancará mais do que um "a-hã" - e, por isso, nem tenta. O que prende toda atenção deste homem é um jogo de futebol, de um clube que já é campeão e que por isso mesmo está a jogar só para cumprir calendário. Jogo que ele está a ver em directo no smartphone, de onde não tira os olhos, por nada. Nada mais lhe interessa, mesmo que aquele jogo nada interesse.

Ponto 1. Se alguma vez eu fizer algo remotamente semelhante, agridam-me.

Ponto 2. Espero que alguma das coisas que aquela mulher lhe disse enquanto estiveram no restaurante tenha sido mesmo o anúncio de separação. Aquela mulher não merece aquilo. Aquele filho não merece aquele exemplo. Aquele homem não merece ter uma família.

Ponto 3. Seja de que clube for, alguém assim mercerá sempre o meu mais profundo desprezo.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Essencialmente

Benedita: 4 anos, 8 meses e uns pózinhos. Ritmo elevadíssimo em termos de avanços no campo lexical.

Pai: 38 anos e uns dias. Claramente em dificuldade para acompanhar o ritmo dela em termos de avanços no campo lexical. E não só.

Ao deitar...
- Pai, podes tapar-me com esse cobertor?
- Posso pois!
- Ah! Sim! Esse! Essencialmente assim, esse cobertor.
- Espera lá! Essencialmente?E...ssen...cial...mente?!... Nunca me tinhas dito essa palavra, Balu! E o que significa "essencialmente"?
- Hmmmm... é... Francês!!!


terça-feira, 8 de abril de 2014

Não são castelos na areia. São famílias. Reais.


Levei-a à praia. Sim, é um lugar comum aproveitar os primeiríssimos raios de sol para pegar na miúda, enfrentar trânsito a caminho da marginal ao fim da tarde, só para a levar à praia por uns escassíssimos minutos. Mas... raios!... ela merece! E esse lugar comum só o é para os adultos. A ela, sabe-lhe ao céu.

Chegados lá, só com uma bola e uma toalha, decidiu ignorar a bola e a toalha, para atirar-se à areia de mãos ávidas de sentir aqueles grãos que já não sentia há quase um ano. Primeiro quis fazer um castelo (as muralhas ali mesmo ao lado, do forte, inspiraram-na) mas ainda eu estava a ajudá-la a fazer as ameias da torre, já ela se tinha virado para outras obras.

Adora desenhar famílias. (Sim... eu sei o que ela quer dizer com isso...) E mais uma vez, foi o que mais lhe deu gozo num dia que já ia longo para ela. Só quis sair da praia depois de desenhar a "Mâmi", o "Pápi, a "Filha", o "Filho" e o "Bebé". Ela gosta de desenhar famílias, reais, mesmo que sejam só fruto da imaginação dela. E eu gosto de a ver desenhá-las tanto quanto ela gosta de as desenhar.









segunda-feira, 31 de março de 2014

terça-feira, 18 de março de 2014

Fio...

... dentolas.


Sim, isto é "fio dentolas". Segundo Sua Excelência Benedita Babalu, que hoje teve "aula" de cuidados de higiene dentária no infantário, com a enfermeira Cecília e o "escudante" Bruno (que, como se percebe de imediato, está a "escudar" para ser enfermeiro). 

quinta-feira, 13 de março de 2014

«Estava guardada no meu coração!»



Há cerca de um ano, ela adorava ouvir esta canção* todas as noites, já a trauteava numa espécie de Inglês que mais não era a aproximação sonora dos finais de cada palavra que fechava um verso e fazia questão de não adormecer sem ver o vídeo no iPhone.

Ontem à noite, a mãe lembrou-se de lhe mostrar de novo a canção e perguntou se a queria ouvir. Ela anuiu mas só depois de ouvir os primeiros acordes é que realmente se recordou da canção.

«Ah! Já me lembrava! Estava guardada no meu coração!»  




[* - Já agora, a canção chama-se "Save Your Kisses For Me" (pelos Brotherhood of Man) e relata a ternura entre pai/mãe e filho/filha, sendo que a criança tem apenas 3 anos - idade que a Balu tinha quando eu me lembrei de lha mostrar pela primeira vez; e lembrei-me de lha mostrar porque era uma canção do ano em que eu nasci - 1976 - sendo um sucesso enorme na Alemanha, onde eu vivia, mesmo vários anos depois de ter vencido o Festival da Eurovisão. Ou seja, eu lembro-me desta música desde que me lembro de ter qualquer tipo de recordações. :-) ]

segunda-feira, 10 de março de 2014

Listas


Listas são coisas que, aos 4 anos e meio, podem descambar com uma certa facilidade.

- Pápi, viste aquele cão?
- Vi.
- Era um cão ou era um gato?
- Era um cão.
- Parecia um gato! (risos) Sabes, Pápi, eu gosto muito de animais!
- Eu sei Balu. De quais gostas mais?
- Cães... Gatos... Galinhas... Papagaios... Póneis... Unicórnios... Nuvens...



quinta-feira, 6 de março de 2014

"Pai" e "Mãe". Sem ajuda.

Um dia, descobres que a tua filha já sabe escrever Pai e Mãe sem qualquer ajuda. Hoje foi esse dia. 




Sem qualquer ajuda. Sem que lhe digamos quais são as letras que compõem as duas palavras nem a ordem pela qual devem surgir... nada.

Surpresa e orgulho.
Ambos imensuráveis.

[Aos 4 anos, 6 meses e 29 dias.]

quarta-feira, 5 de março de 2014

Vita-quê?!...

No supermercado...

- Pápi, isto é o quê?
- São vitaminas, Babá.
- São quê?! Vita-meninas?!


terça-feira, 4 de março de 2014

A "Balu"... dela

Aos 4 anos, 6 meses e 27 dias, a minha Balu decidiu criar a "Balu"... dela.

Deixou-me sozinho na sala,  foi para o quarto com os materiais dos cortes e das colagens, e não disse nada durante uns quinze minutos. Depois chamou-me. "Ó Paaaaaaaaaaíííí!" (Aquele acentuar muito agudo do "ííí" tira-me do sério...)

Estava toda orgulhosa! No chão estava uma boneca que ela tinha desenhado, cortado e colado sozinha. "Sou eu, Pai! Esta é a minha Balu! A minha Baluzinha!"

A cara desenhada num papel, o resto do corpo feito de espuma plástica.

Fiquei fascinado, claro. E ela ainda mais orgulhosa pela minha satisfação.

Como no início da noite tínhamos estado a cortar corações para todos cá em casa, achei que à boneca - para que esta fosse fiel à criadora - precisava de um coração. Como a Balu real tem vida, basta ouví-la falar ou rir, ou simplesmente olhar para ela, para perceber o tamanho do coração que bate naquele (ainda) pequeno corpo. Como a "Balu" dela não tem vida, precisava de um coração que fizesse justiça à vida da Balu que acabava de lhe dar forma. A ideia foi minha. A colagem foi dela.


Colámos então a boneca na parede, de frente para a cama, para a Balu olhar para a "Balu" ao adormecer e ao acordar, e para a "Balu" olhar pela Balu entre o adormecer e o acordar.

E foi assim que acabou mais um dia, mais uma noite. Mais 24 horas, ao fim das quais me sinto - como não pensava ser possível - ainda mais maravilhado... com a minha Balu.


  

segunda-feira, 3 de março de 2014

2 "Hits Balu'sicais"


A noite cá em casa teve dois grandes sucessos de banda sonora. "Cocó no rab'du cããão!... Cocó no rab'du cããão!..." e "Paaai! Tu és liiindo p'rque pintaste as orelhas e o nariiiz de cor-de-laranjaaaa!..."
Se para esta última canção tenho a certeza de que a inspiração veio do facto de eu a ter ajudado a pintar o 'irmão gémeo' deste feiticeiro na página seguinte do livro para colorir... no caso da primeira música fico feliz por não fazer a mínima ideia do que esteve na origem do rasgo criativo que tornou a escatologia canina num "Hit Balu'sical".



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

22 de Janeiro de 2014

Para (nossa) memória futura... neste dia o Pai pode ter (re)começado a viver.



Faz figas por mim!...

domingo, 19 de janeiro de 2014

zzzzzzmarties!

Finge (mal!) que está a dormir quando eu entro no quarto para dar-lhe um beijo de boa noite. Não me contenho e rio, ao que ela reage, "zangada", dizendo: «Oh, Pai!... Estás-m'acordar-me!...»

Então lá lhe dou um beijo, digo a lenha-lenga que temos desde há muito - coisa nossa - para nos despedirmos à noite e ela vai respondendo a sussurrar, de olhos fechados, como quem já dorme profundamente.

Afasto-me. Vou até à porta. Olho para trás para verificar se está tudo bem. E está. Tão bem que ela está de olhos BEM ABERTOS e atira, em voz bem alta:

«Pai! Amanhã tens de ir comprar mais daquelas coisinhas que acabaram! Os Smarties! Sabes, Pai? Sim acabaram! Tens e ir comprar!»

[imagem: miracles-inc.com]


«Ah! Para pedir Smarties já não tens sono?!», aproveito eu para a confrontar.

«Tenho, pois!» Vira-se, fecha os olhos e finge ressonar.

Dali a uns momentos, já dorme mesmo, sem fingimento.

Não sei o que diga, nem sei o que faça quando ela me prega coisas destas.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Dos conceitos que não batem certo

Conversas entre mãe e filha que acontecem na minha ausência...
(mas que recebo via sms)

- Mãe, o pai antes de casar contigo era um homem?
- O pai é sempre um menino, um homem, um senhor, Balu.
- Não é um senhor! É o pai!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

(n')O coração - II

Estava a vesti-la e, de repente, ela (divertidíssima) puxou-me com força a pequena gola da t-shirt para baixo. Perguntei-lhe, meio a ralhar com ela, por que raio me estava a fazer aquilo, que ia estragar-me a t-shirt. Respondeu-me: «Quero dar-te um beijo no coração!» Avançou e deu-me um beijo rápido no pedacinho do meu peito que "conquistou" com aquela "investida", em que minha roupa saiu claramente a perder. Riu-se muito e fez-me "olhinhos". Não há nada nesta catraia que não venha com um bocadinho de amor agarrado. Mesmo que seja travessura de amor safado.


[imagem: favim.com]


Benedituga

Dois episódio seguidos (15 minutos de intervalo) provam que a minha filha já é do mais "tuga" que se pode imaginar. Aos 4 anos e 5 meses de vida descobriu o portuguesíssimo conceito do "desenrasque".


* * *

1. No caminho entre o infantário e casa há um campo de futebol que tem vindo a ser construído, aos poucos, nos últimos meses. Da janela ao lado da cadeirinha dela, no carro, foi acompanhando a construção do campo (a terraplanagem, a drenagem, a colocação das redes que limitam o terreno, a colocação da relva sintética, a pintura das linhas, a instalação das balizas), naqueles 5-10 segundos de passagem pelo local, todos os dias. Hoje vi pela primeira vez lá miúdos a treinar... só que ainda às escuras, sinal de que ainda não há instalação eléctrica. Quis mostrar-lhe os miúdos e disse-lhe - entusiasmado! - para ela olhar pela janela, como nos outros dias. Ela olhou. «Pai, não vejo ninguém! Os meninos 'tão a jogar sem luz?!». Respondi que sim. «Não faz mal, Pai. Eles 'desenrasquem-se'!»

2. [Ao chegar a casa...]
Abro a porta, carregado com mochila dela, um livro, o correio, um saco, a carteira dos documentos, as chaves de casa e do carro. Ela entra primeiro e segue directa para a sala, para mexer no computador, que estava ligado e no screensaver. «Então, Balu, não ligas a luz para eu poder ver onde ponho os pés?!» Resposta imediata, já ao longe, lá do meio da sala: «Desenrasca-te, Pai!»



[imagem: http://www.almanostra.com]